Existe um rotina quando as pessoas morrem em um hospital (desculpas por tocar nesse assunto, mas as pessoas realmente morrem no hospital e existe uma rotina após isso). A
enfermeira chama a família. O médico dá a notícia. Eu (psicóloga) estou ali,
parada ao lado para dar o suporte quando o silêncio se rompe em choro, ou
grito, ou não se rompe. E caminhamos juntos por toda parte dolorosa e também pela burocrática. Passamos para pegar um papel aqui, receber os pertences ali, fazer
uma ligação...
Até que vamos ao Fábio, do necrotério. Raramente o vejo fora
desses momentos, tanto que não consigo tirar o acompanhamento de seu nome. É o
seu nome.
-O Fábio, Fábio de que?
Seu sobrenome.
-Fábio do Necrotério.
Ele passa comigo a parte que menos gosto: a parte que o
familiar vai ver o corpo ali deitado naquela sala sem o conforto que não é mais
necessário. Sinceramente, é uma parte muito ruim de acompanhar.
Então é sempre assim, quando o encontro no corredor sei que
alguém faleceu. Ele é um prenúncio. Seu cabelo molhado, seus óculos escuros.
Meu coração surta dentro do peito e penso “Merda, quem foi?”.
E me preparo porque
alguma psicóloga vai receber uma ligação. Detesto óbitos, espero que não seja
eu. Espero que seja a Letícia, Quando a ansiosa curiosidade aperta, pergunto em um gesto simples de longe: “Tem alguém?” e ele nega com a cabeça a distância.
Eu quase sorrio.
Nesses dias reparo um alívio que sempre me passou despercebido e que acontece no rosto dele quando faço essa pergunta. Ele é meu prenúncio. Eu
sou o prenúncio dele. Toda vez que me olha pensa, angustiado: “Espero que não
tenha óbito”. E aguarda a ligação.
O alívio vem dos olhos do Fábio...ou dos seus. AFF!
ResponderExcluirQuem é o "Fábio do Necrotério" do Fábio do Necrotério?
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