quarta-feira, 30 de setembro de 2009

~Enleio

Todos falavam muito e muito alto. Não podiam, mas era assim que estavam: agitados e berrando. As crianças não paravam quietas e alguns pais que por ali estavam a ajustar a fantasia de seus filhos tentavam de quando em vez acalmar os mais tensos. A professora com a voz mais irritante se esforçava para organizar uma fila na ordem de apresentação. A bailarina atrás da borboleta que ficava atrás de um menino Chaplin. Da coxia dava para escutar os aplausos da apresentação anterior, a garota vestida de passarinho começou a chorar nesse exato momento.
Um garotinho magro estava fantasiado de baleia perto do menino gordinho que se vestia de Pinóquio. O primeiro tentou engolir o segundo sem muito sucesso, até que um outro fantasiado de Gepeto fez ameaças segurando um nariz de madeira postiço. Os três foram colocados sentados com uma advertência da professora branquela de decote inapropriado.
No canto estava um menino quieto, talvez o único que tentava se concentrar. Nas mãos um rascunho com letras que visivelmente não eram dele. Repetia baixinho as frases de uma poesia de Drummond, era uma surpresa que seu pai e ele haviam planejado para sua mãe e ele tentava fazer de tudo para gravar.
-Que é que vou dizer a você? Não estudei ainda o código de amor. Inventar,não posso. Falar,não sei. Balbuciar, não ouso. – dizia baixo sem olhar para o papel. Conferiu se estava certo, a palavra “balbuciar” fazia com que ele se perdesse e continuou –Fico de olhos baixos. Espiando, no chão, a formiga.Mais palmas, agora era a vez dos meninos que ainda brigavam com um nariz de falso de Pinóquio. Ele escutou muitos risos logo no começo da apresentação destes. As pessoas estavam se divertindo com a nova versão onde Gepeto salva Pinóquio na boca da baleia que por sorte consegue ficar pelo menos com o nariz.
O pequeno poeta começa a se achar ridículo com o terno e a pensar que tudo era uma péssima idéia. Ele ia gaguejar, sua mãe não ia gostar e todo mundo riria porque estava fazendo feio.
-
Você sentada na cadeira de palhinha. Se ao menos você ficasse aí nessa posição. Perfeitamente imóvel, como está....- as pessoas ainda estavam rindo do Gepeto que nesse momento agradecia o favor que a baleia tinha feito de diminuir o nariz de seu filho – Uns quinze anos...Só isso...Palmas, mais palmas e risadas altas. Os meninos saem do palco e entram na coxia rindo de tudo e correm para beber água onde começam uma guerrinha com a própria no bebedouro. A coordenadora gorda de cabelos loiros chama o menino uma, duas vezes. Ele quase desiste de levantar e ir até o palco. Nervoso resiste ao máximo a olhar para outro lugar que não seja o chão. Até que escuta uma música vinda do piano e olha para o lado. Seu pai sorria para ele, tocando baixinho ....-Então eu diria, Eu te amo. Por enquanto sou apenas o menino. Diante da mulher que não percebe nada. Será que você não entende, será que é burra? – termina corajosamente de dizer todos os versos . Não se sentia tão ridículo com o pai ali. Procurava com os olhos viu a mãe em meio a tantas palmas, ela tinha um sorriso travado no rosto, era o sorriso preferido dele...o de orgulho.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

[Aos momentos em que somos iguais]

‘todo mundo é parecido quando sente dor’

As pessoas se movimentavam com frenesi, procuravam uma pela outra dentre tantas. Mais um desmoronamento. Todos desnorteados, muitos inertes em desespero. O bombeiro que chegara a pouco no local encontra uma criança que quieta chora. Oferece ajuda, e pergunta quem ela procura. A menina responde que se perdeu da mãe na hora de fugir dos destroços que caiam. Pegando essa pequena pela mão, leva até um lugar mais alto onde desse para ver melhor as pessoas.
Todos estavam sujos com a poeira dos escombros, outros tantos feridos e poucos que chegaram para ajudar nos socorros. O bombeiro coloca a menina no colo e pergunta
,“Como ela é? Está vendo em algum lugar?”. A pequena esfrega os olhos cheios de poeira, olha para o bombeiro e aponta perdida para as pessoas cinzas no lugar “Eles se parecem tanto...”.

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Hoje às 16 horas o meu irmão poderá mudar o perfil do Orkut de "solteiro" para "casado". Ele se casa no civil com a dona Carol e oficialmente terei uma cunhada...

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Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

the storm in me

"Who am i?
Would choose to light the way,
For my ever wondering heart."
Who am I- Casting Crowns


Estávamos sentados no carro aqui perto de casa, tínhamos acabado de comer pizza ,ele veio me trazer como de costume e falávamos de como meu tênis roxo é bacana (mãe,comprei!).Daí fiquei quieta, sabe? Não tinha pensado na possibilidade de falar alguma coisa, estava escutando a música “Who am I” e lembrando do significado da letra. Ele tem o costume de traduzir as letras, mas como já conheço essa de tanto escutarmos, ele apenas comentou o quanto é linda e não dei um feedback. Rafael, meu psicólogo (ele não é meu psicólogo, mas é psicólogo e tem umas manias de psicólogo) perguntou se eu ia ficar em silencio daquele jeito ou se iria falar algo.“Estou quieta hoje.”, falei pensando em outras coisas que só Deus sabe. Mas bem, vocês não conhecem Rafael, ele não aceitou minha desculpa. Deve ser por isso que às vezes sinto medo dele, faz perguntas demais sobre coisas que não consigo pensar e não aceita minhas respostas quando acho que são válidas.
Foi bisonha a cena dele falando que eu não estava quieta, estava entalada. Foi desastroso porque ele imitou uma pessoa entalada, meio que asfixiando. E a risada dele é muito hilária, a cena ficou bem trash. Mas mesmo assim não consegui fazê-lo acreditar em mim.
Não troco meus pensamentos por reinos, não é o costume, não são tão preciosos. Tudo bem que ele nem me ofereceu seu reino pelos meus pensamentos, talvez concordasse que não são tão preciosos assim. Fiquei quieta olhando pro nada, novamente, como se não tivesse levado em consideração o que ele quis dizer com o dito popular
-“quando a boca cala, o corpo fala e quando a boca fala, os órgãos saram”.Olhei meus olhos no espelho do carro, estavam lindos, e notei o quanto estava entalada. Notavelmente. Então cedi e falei...Porque se tenho ficado assim é a confusão que no fundo tudo se encontra. Eu sei que é confuso, eu sei que é demorado. Tenho razão de às vezes achar que tudo perde o rumo, as coisas às vezes parecem perder o rumo. E não posso fazer nada, mas eu confio. Eu sei. Eu espero. Deus sabe que eu esperaria, ele sabe quando sou chata e bobona. As coisas apenas estão contidas e me deixo pensar que estou apenas quietinha hoje... Mas estou aqui,apenas escutando uma música e tentando parar de pensar em quem sou eu e o que será, mas tentando pensar em quem Tu ÉS que isso basta se eu acreditar.


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O Lucas vai casar e está chegando o dia...

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A saga mais envolvente está chegando ao fim.

Ainda existe uma esperança.

A TERRA DE BABEL

(assista o trailer, clique aqui)