sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

escrito com os meus garranchos

(porque o ócio dá nisso)
Não faz sentido pensar certas coisas
e ficar imaginando
como se fizesse sentido que acontecessem

Não faz sentido começar a agir errado
logo agora
e parar de lutar
e ceder
e cair

Como se fizesse sentido renunciar
uma medalha de primeiro lugar
onde falta conquistar o sentido
de ver a linha de chegada
no prêmio a esperança
e retornar ao lugar de origem
mesmo ao ver os portões

Agir como se fosse apenas uma história
escrita
lida
escondendo o verdadeiro sentido
o sorriso

Dizer,
nada aconteceu
abandonar a pessoa que se quer ser
e sentir vergonha pelo que sentiu

Não faz
negar o que te mudou e dizer que faz sentido
o caminho que tomou
por pensar certas coisas
e ficar imaginando
como se fizesse sentido

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

pELA mETADE

“Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.” Romanos 7 -22,23



Às vezes tenho certeza de tudo o que sou. De toda a sua glória em minha vida, em minhas atitudes. Todo o seu amor sendo mostrado por mim aos que vivem comigo. Em meu abraço, choro, sorriso, interesse.. quando me importo.
Outro instante, pareço acordar. Usando uma máscara. Uma outra metade. Uma cópia de mim.Uma fraude. Essa que me faz questionar quem sou. Já não sei mais...não mostro o meu valor.
O rosto distorcido em frente ao espelho. Meu corpo. Meu olhar. Alguém diferente...sei que é. Nesse momento já sinto raiva dos que me magoam. Já não consigo deixar meu orgulho e assumir meus erros. Já não me importo com os que choram. Invejo os que se alegram. Não estou disposta para suas obras. E começo a ceder às minhas vontades mais primitivas. O bem que quero...o mal que faço.O bem... o mal que faço.Fico abaixo. Fico na lei do pecado. Que me destrói aos poucos com a culpa. Parece corroer... Fere pensar que estou longe dos seus mandamentos. O pecado agindo em mim e me fazendo dono de uma história que não é minha. E eu deixo, e por tão barato me vendo.Todo meu comportamento sendo contra meu entendimento.Sei o que devo fazer. Sua lei me agrada...mas minhas satisfações e meus desejos. A culpa para uma vida em um simples instante.

Sinto o seu olhar tirando a máscara de tudo o que tenho feito. Vendo mais que meus defeitos. Olhando um coração atordoado agindo contra tudo o que crê. Olha o que sou. Sei que me olhas e choro em meu entendimento. E me diz que seu amor perdura. Revelando a mim... Assumo então o quanto sou fraco. O quanto a culpa é minha. O quanto o pecado que vive em mim...Mas diz que nada me separa de seu amor. Nem a vida, nem a morte.Anjos,nem outras autoridades ou potestades celestiais.Nem o presente,nem futuro. O mundo lá em cima ou o mundo lá embaixo. Nada...Mostra o homem que sou e o diferencia do animal que habita sobre minhas vontades. Justificando. Tornando meu inteiro algo real. Tirando minha vida das coisas que ficaram por aí,pela metade.

*****


Você sorriu e me propôs
que eu te deixasse em paz
Me disse vá e eu não fui

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Conversas de cozinha


Naquela época as coisas eram mais simples. Meus cabelos eram vermelhos, era uma aluna de boas notas, tomava sorvete na véspera das provas de geografia, minha mãe não fumava e morávamos juntas na recém comprada casa da rua Salustiano Nunes. Já via o mundo de forma diferente, mas não via o mundo de forma completa.
Reformamos a casa antes de nos mudarmos. Fizemos uma cozinha onde era a varanda e uma varandinha onde não tinha nada. Reformamos o banheiro que agora precisa de uma nova reforma. Mudamos o piso. Pintamos as paredes externas naquele amarelo que até hoje não sei de quem foi a ideia. Mas,sonhamos muito com a cozinha. Eu pedi uma bancada, mas ela nunca chegou a ser encomendada.
Mesmo que grande parte de nossos planos ainda não tenham acontecido, ela se tornou o melhor lugar da casa. Às vezes minha mãe colocava música e dançava ali com o Vanderley. A televisão do quarto passou para a cozinha, onde ficávamos sentadas vendo Gilmore Girl’s antes de começarmos a fazer o almoço de domingo.Eu e o Lucas travávamos uma lutinha básica por ali, ele também tinha o golpe baixo de me dar uma queda e partir para a cosquinha. Sempre que falava ao telefone, sentava em um canto perdido da cozinha. Era onde tomávamos um café a qualquer hora do dia ou da noite conversando sobre qualquer coisa.
Não foi porque era o lugar da casa onde havia comida, até porque não comíamos na cozinha, mas sim na sala. Não foi porque é o lugar onde não se é tão abafado e não fede a chulé dos meninos. Foi simplesmente porque na cozinha tem um atrativo para grandes conversas e momentos tecnicamente diferentes.

Reparei logo que conversas de cozinha são muito mais interessantes, e quando passadas para outro lugar da casa, perdem o encanto, a intimidade, ou sei lá o que certamente seja o segredo do mistério à bolonhesa. Tanto faz a cozinha, desde que seja uma cozinha. Coisa básica,coisa boba.

_Vamos para a sala?Vai começar o programa da Ellen. – pensando ser um convite irrecusável.
_Estamos conversando na cozinha Thaís! – disse em tom perplexo.
_A gente conversa na sala!- insiste como se eu não houvesse entendido a questão.
_Você não entende. Estamos conversando na cozinha! – depois disso passamos para a sala e a conversa morre de morte súbita.

Porque tudo que é intimo é levado para a cozinha. Não se recebe pessoas que não temos intimidade pela porta da cozinha e nem esperamos que ela nos veja lavando louça ou os farelos de pão na mesa. Porque é basicamente um gosto irremediavelmente agridoce. Algo acompanhado com alcaparras, coisas assim. E se não for abuso, com o rosto propositalmente sujo com massa crua de panquecas com direito a pergunta “Posso fazer um Sol?”.

Conversas à bolonhesa. Molho branco. Quatro queijos. Frango com Catupiry. Creme. Borda recheada. Pimenta calabresa. Fazendo a gente degustar algo com prazer. Claro,isso não tem nada a ver com comida.