terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Acordo cedo e te vejo dormir, minha hora preferida. Fico quieta escutando sua respiração barulhenta e é apenas isso que torna impossível que simule sono perto de mim. Sei que nesse momento você não simula nada, apenas nesse. Seu braço sempre para fora da cama, transparecendo que todo o espaço do mundo não é suficiente. Para você o mundo é pequeno demais, é visto por cima, de longe. Distante. E eu, mínima. Seu sono também é bagunceiro, brinca na cama como se sua agitação corriqueira não acabasse. Você muda, se ajusta, se perturba, se desajusta. A impressão é que nunca está em paz, nem mesmo no momento em que o rosto fica sereno. Mas nessa hora eu estou e te vejo diferente com os olhos fechados, o formato delicado do nariz, o corpo meio coberto e nu. Indefeso.

É a única hora do dia em que consigo ficar em silêncio, é a única hora do dia que sinto que isso é o suficiente para mim e para você. No mesmo lugar. Minha hora preferida. E em um momento breve seus olhos abrem. Nesse breve momento minha paz termina.