quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Não vou rasgar nada.

Conheço pessoas legais da forma mais imprevisível. Acho que todo mundo faz isso, mas sou do tipo que não deixa pessoas legais escaparem porque acho poucas pessoas legais. Tenho preguiça de gente e preciso (às vezes) fazer novos amigos.   
Menos surpreendente que conhecer atravessando a Terceira Ponte no dia do protesto, eu o conheci dentro do ônibus indo pra minha cidade, dormindo em posição fetal na poltrona. Morri de inveja porque ele estava na janela, mas conversamos mesmo assim. Não tinha tomado Dramin, precisava me distrair e quem sabe ele trocaria de lugar comigo.
Ele reclamou da vida, ensinou que leite é melhor para pedra nos rins que água, que o Rock in Rio é ótimo nos dias de Metal e citou o Seu Madruga. Enquanto eu reclamava da vida, explicava termos da psicologia, mostrava como era o cheiro de óleo corporal de Lichia e dizia que travesseiros de viagem são esnobes.
Confesso com todo respeito que ele é um charme (e que a namorada dele não leia isso), mas que hoje está me deixando com um puta mau humor (esse é o plot twist fraco do texto) e nem sei exatamente o motivo. Talvez seja porque me despedi, porque estou de TPM e levando as coisas pro lado pessoal. Se ele ler essa frase vai reclamar, vai falar que quer que eu seja direta e diga exatamente o que estou pensando, o motivo e essas coisas: “Ana, rasga o verbo”.
E quando me pede pra fazer isso fala tão rápido e movimentando os braços que fico meio perdida e meio surpresa e meio perdida novamente. Isso me faz rir porque é a pessoa mais direta e mais clara que já conheci na minha vida. Nunca imaginei que isso seria legal porque tenho toda minha carteirinha oficial do clube “Adoro sutilezas”. Tipo quando a pessoa encosta a testa na sua tentando te dar um beijo, mas não pede.
E só porque estou com um puta mau humor que não vou terminar o texto do jeito que ele gostaria, não serei direta e nem vou explicar nada. Até porque hoje é o último dia do ano e prometi rasgar minha carteirinha de sutilezas e adotar o estilo de vida direto apenas no dia 1.


Mas também já expliquei a ele que promessas de ano novo quase nunca dão certo mesmo. 

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Só porque detesto despedidas e porque tenho minha promessa de ano novo.

domingo, 28 de dezembro de 2014

A monotonia

Sento no sofá. Troco o canal uma vez. Vinte vezes. Cinquenta vezes. Tem mil coisas. Não tem nada. Desligo a televisão.
Olho o celular. Sem mensagens.
Está quente e ligo o ventilador que dá uma volta. Duas voltas. Cinco voltas. Perdi a conta. Uma volta. Dez voltas. Vinte voltas. Perdi a conta. Está frio. Desligo o ventilador.
Essa parede está suja. Preciso pintar. Mas a parede da cozinha tem um azulejo. Dois. Quatro. Cinquenta. Noventa azulejos. Multiplico o da horizontal com o da vertical. Cento e vinte? Conto novamente.  Cento e vinte. Aquele está torto. Merda, que nervoso.
Olho as horas no celular. Olho novamente porque não lembro o que vi. Olho novamente. Olho se tem mensagens. Não tem. Olho as fotos antigas. Olho novamente as mensagens. Olho as horas. Mando mensagens. Não me responde nunca. Respondeu, mas perco o assunto.
Pego o livro. Leio uma página. Não lembro o que li. Tento reler. Paro na primeira frase. Olho o celular novamente. Olho para o teto.
Abro a geladeira. Fico olhando. Encarando. Mais um pouco. Fecho a geladeira. Olho o celular. Abro a geladeira mais uma vez. Não apareceu nada de diferente. Abro mais uma vez. Olho o celular.

Abro os olhos, ainda está no primeiro canal da televisão. Peguei no sono e não percebi. Então, troco o canal uma vez. Vinte vezes. Cinquenta vezes.  

domingo, 7 de dezembro de 2014

Voltei e nem pedi

O blog é meu e escrevo nele as besteiras inúteis que quiser. Me dou o direito de começar as frases com pronomes e ter momentos de futilidade abundante. Posso apenas não escrever durante séculos e voltar simplesmente do nada fingindo que sempre estive aqui (sem falar a ladainha de novos começos e desafios da vida, estamos de saco cheio desse mimimi). O blog é meu. Mas, sinta-se a vontade (sem abusar demais). Só não estranhe se eu me sentir no direito de terminar a frase antes do f

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Tem Etta James cantarolando no meu ouvido hoje.