segunda-feira, 18 de maio de 2009

Anarina


Quisera ela ter o mundo nas mãos, não o tinha, mas agia de quando em vez como se pudesse um dia ter.


Seus sonhos não eram grandes, mas eram tão seus quando o céu de Deus é.

Com uma caixinha de lápis para colorir, pintava com cores desconhecidas, verdades de verdades que não aconteceriam.

Dizia ao mundo em sussurros, para que apenas os anjos a pudessem ouvir.

Em dias que pensava não poder mais viver, renascia em redenção.
Virava do avesso ao sentir o coração. Como do mundo nada mais fosse necessário,
e não era.

No jardim de muros altos sentia as palavras e as perdia, vivendo apenas com uma brisa.

*****



Ele decifra sorrisos que não querem dizer nada.Escuta péssimas músicas. E acha que todo carinha que não quer nada comigo é viado. Ninguém entende nada do que ele fala. É metido a poeta. E no dia do aniversário dele, sempre me liga para conversar.
Feliz aniversário,
foi realmente bom falar contigo.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

AMÉM


(por: Fernando Anitelli- O Teatro Mágico)

Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário

Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade... ]
[ nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade ]
[ no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas


*****

“Ah, se eu pudesse dizer tudo que tenho trancado aqui no peito.
Mas não posso. Eu não posso nem chorar.
Eu acho que, se chorasse, iam sair pedras dos meus olhos.”
Vinícius de Moraes
(asteriscos)

Escrito com os meus garranchos (II)


Quisera ela ter o mundo nas mãos, não o tinha,
mas agia de quando em vez como se pudesse um dia ter.

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NÃO SE PRENDE
MAS SE DEIXA PRENDER
por instantes
CEDENDO AOS NOSSOS
MAIORES ABSURDOS
por fé em nós

terça-feira, 12 de maio de 2009

O que podemos ser

Um dia me disseram/Que as nuvens não eram de algodão/
Um dia me disseram/Que os ventos às vezes erram a direção/
E tudo ficou tão claro/Um intervalo na escuridão/
Uma estrela de brilho raro/Um disparo para um coração

Eu sei de você. Sei dele. Em uma noite. Nada mais que nomes. As coisas não deviam ter acontecido daquele jeito, mas uma coisa ninguém pode contar é o que você passava naquele momento. É fácil demais julgar pelo que fizeram, mas seria tão injusto ignorar tudo o que se passa dentro de você.
Não sei como estava o tempo. O que faziam antes ou onde estavam. Você também não se deu ao trabalho de me falar muitas coisas, mas tomo a liberdade de dizer que não existem pessoas que sejam fortes o tempo todo. Não somos heróis, por mais que muitos insistam em nos ver como tais.
Às vezes não importa o quanto resistimos a algo 364 dias do ano se no 365ª cometemos um erro. Algumas pessoas não estão preparadas para nos aceitar, para ajudar, para saber o que aconteceu.Se não fossemos resumidos por tão pouco. Se não fossemos reduzidos aos nossos erros.
Para alguns não existe volta, por esses não creio que devamos nos sentir culpados em ter segredos. Por esses mesmos não devemos sentir culpa de estarmos trancados em um armário. São pessoas que esquecem de nós, dizem que não vale de nada se arrepender. Eles não sabem o que é ter falhas. Bom, eles tem muitas falhas que escondem por medo de serem julgados da mesma forma.
Talvez seja essa a resposta de nos sentirmos fraudes sem o sermos. Para que dizer algo se ninguém está disposto a compreender? Se fosse diferente, se tivéssemos escolha nisso tudo...
Existe uma vontade de dizer para todos, ser honesto. Mas seria injusto. Não teria sorriso de canto de boca, aquele que damos por felicidade, de alivio ao nos sentirmos completos...Não somos fraudes, não somos hipócritas. Somos nós e nossas fraquezas. A forma mais verdadeira, sem disfarces. Somos nós com o que sentimos e o que nos confunde.
Apesar de doer, gosto de saber sobre você. Sobre ele. Sobre aquela noite. Porque agora entendo quando seus olhos ficam vermelhos, entendo o que se passa em você e entendo esse olhar que tem.


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Ela: Você escreveu esse texto pensando em mim ou é mais uma daquelas coisas de não levar para o lado pessoal?Eu: O bom de pronomes é que mais gente vai achar o mesmo. Não leve para o lado pessoal, ou leve.

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“Há leitores que acham bom o que a gente escreve. Há outros que sempre acham que poderia ser melhor. Mas, na verdade, até hoje não pude saber qual das duas espécies irrita mais.”Mário Quintana (1906-1994) poeta e cronista gaúcho.