quarta-feira, 18 de março de 2009

Um estranho no escuro

Ela podia ser sim muito estranha desde o início desta estória. Ninguém dava muito crédito justamente por isso. Estranha, não bizarra, mas sem dúvidas muito estranha. Usava um óculos redondo fora de moda e prendia seu cabelo de formas bagunçadas. Dizia que a maior distância era o tempo, acreditava que todo mundo tinha um preço, mas mesmo que estranha ainda chorava como toda pessoa normal. Sendo que a letra maiúscula dessa frase foi quando o novo morador chegou, e todos se orgulhavam dele. Era um bichinho inteligente, às vezes era engraçado com suas estripulias. Ele parecia gostar bastante dessa menina, como se tivesse se apegado de uma forma especial. Ela retribuiu esse carinho se apegando a ele. Aturava em seus momentos de bagunça. Viraram amigos, como se ela fosse a única que conseguisse falar a mesma língua que ele.
Essa criaturinha começou a crescer e se tornar algo que a princípio era desconhecido. Pensou que seria uma fase qualquer que estaria passando, mas ele virava um monstro ao passar dos anos. Ela era a única que notava...
Todos achavam que era o bichinho mais exemplar que conseguiram e na proporção que viam o quanto ele era especial ela notava o quanto seu comportamento era monstruoso.
Começou a se afastar dele e a lutar contra qualquer encantamento que sentia. O amava, não tinha dúvidas disso. Mas ele não era o que todos pensavam. Eles eram tão cegos e se vissem... Caso ela contasse tudo poderia desmoronar. Toda a felicidade iria desabar e não saberia mais o que fazer.
Ela passou noites com medo. Chorava baixinho para que ninguém notasse que estava acordada. Deixava a luz acesa. Mas ninguém notou o quanto ela estava mudando, afinal, ela sempre foi estranha demais.
E se afastou se tornando mais estranha que antes. Não queria sentir amor por ele, era como se isso fosse além de enganar os outros com o que ele era. Era como se enganar também. Já traia gente demais negando a verdade.
Às vezes se vendia por achar que tinha culpa dele ter se tornado o que se tornou. Passeava exibindo a criaturinha para todos e fingia que era tudo como antes. Mas a razão voltava e queria gritar para todos que tinha motivos para ser tão estranha... Seria doloroso demais para todo mundo. Ela já ficou tão boa em fingir. Já se tornou tão forte em suportar e superar todos os dias a sua grande mentira. A sua fraude.
O ponto final disso tudo nunca foi realmente notado dentro da frase. Ninguém nunca percebeu o que verdadeiramente aconteceu com a menina estranha. Ela talvez tenha ficado mais estranha. Mas as pessoas nunca chegaram a saber quem era o verdadeiro estranho no escuro.

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