sexta-feira, 31 de julho de 2015

Apelidinhos de namoro

“Toda carta de amor é ridícula, se não for ridícula não é uma carta de amor”

Já jurei de pé junto, já maldisse aos céus e terra, já ri, já usei contra você todos os apelidos toscos que um namoro pode ter e todas as bobagens que acarretam uma paixão. Dava graças aos céus por me protegerem de coisas como ser chamada de “amor”. De amor só chamava meu pai e olhe lá, porque se fosse meu irmão eu ainda faria caretas involuntárias.
Disseram uma vez que quando eu encontrasse a pessoa certa me livraria disso e eu ri, obviamente, e enchi minha grande boca ao dizer “Você não me conhece”. Mas, escreva bem o que estou te dizendo (já está escrito, então no máximo faça Ctrl C + Ctrl V), todo mundo que condena aos 7 ventos o uso de “amor-mozin-mô-moreco-mozão”, um dia pagará a língua que tem. Não importa quanto tempo demore, você pagará.
Você vai aparecer protegido com sua armadura completa de “ninguém vai me fazer ficar bobona” e com a espada chamada “tenta que corto sua garganta”, mas alguém sutilmente vai aparecer disfarçado de “pessoa qualquer”, vai te conquistar, te arriar os quatro pneus e o step, te deixar sem proteção contra coisa alguma, sobre qualquer coisa. Ainda terá vestígios, pode até pedir no início que não, mas não vai demorar muito. Você foi pego, se ferrou.
Ferrou tudo e tanto que mudou o nome do contato no celular, se ferrou tanto que não chama apenas de amor, mas também cria variações inimagináveis para tal palavra. Ferrou tanto que acha que o mundo acabou se por acaso é chamado pelo nome porque, afinal, que mal você fez aos deuses todos pra merecer ser chamado pelo próprio nome?
E não tente resistir muito que possivelmente tudo vai piorar, não demora muito irão comprovar que quem condena apelidos carinhosos por um tempo prolongado demais tendem a chamar a amada/amado de namorida/namorido e bom, isso já é demais, né.





segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Fábio do Necrotério

Existe um rotina quando as pessoas morrem em um hospital (desculpas por tocar nesse assunto, mas as pessoas realmente morrem no hospital e existe uma rotina após isso). A enfermeira chama a família. O médico dá a notícia. Eu (psicóloga) estou ali, parada ao lado para dar o suporte quando o silêncio se rompe em choro, ou grito, ou não se rompe. E caminhamos juntos por toda parte dolorosa e também pela burocrática. Passamos para pegar um papel aqui, receber os pertences ali, fazer uma ligação...

Até que vamos ao Fábio, do necrotério. Raramente o vejo fora desses momentos, tanto que não consigo tirar o acompanhamento de seu nome. É o seu nome.
-O Fábio, Fábio de que?
 Seu sobrenome.
-Fábio do Necrotério.

Ele passa comigo a parte que menos gosto: a parte que o familiar vai ver o corpo ali deitado naquela sala sem o conforto que não é mais necessário. Sinceramente, é uma parte muito ruim de acompanhar.
Então é sempre assim, quando o encontro no corredor sei que alguém faleceu. Ele é um prenúncio. Seu cabelo molhado, seus óculos escuros. Meu coração surta dentro do peito e penso “Merda, quem foi?”

E me preparo porque alguma psicóloga vai receber uma ligação. Detesto óbitos, espero que não seja eu. Espero que seja a Letícia, Quando a ansiosa curiosidade aperta, pergunto em um gesto simples de longe: “Tem alguém?” e ele nega com a cabeça a distância. Eu quase sorrio.

Nesses dias reparo um alívio que sempre me passou despercebido e que acontece no rosto dele quando faço essa pergunta. Ele é meu prenúncio. Eu sou o prenúncio dele. Toda vez que me olha pensa, angustiado: “Espero que não tenha óbito”. E aguarda a ligação. 

domingo, 26 de julho de 2015

Irmã Mayara,

que joga cartas, búzios e não cobra trabalhos.
Entenda, de uma vez só, que trazer a pessoa amada em cinco dias nunca foi o problema.
O problema é fazê-la ficar.