quinta-feira, 29 de abril de 2010

E São Sempre As Mesmas Coisas

por: Gabriela Leite


E são sempre as mesmas coisas;
Os cílios negros piscando fixadamente despreocupados
A respiração lenta e oscilante; a boca entreaberta esperando algo
O cabelo sempre bagunçado entregando o momento

Ah, meu querido
Seu hálito, um dos meus gostos preferidos
Seu tórax, o melhor lugar pra se estar
Seus braços, onde não há dor nem frio

Desculpe incomodá-lo com meus olhares descarados
É que eu não resisto ao seu rosto tão belo
Vem cá, chega mais perto; deixa eu me fantasiar em você

Ah, meu querido
A vida está ai e nós somos só aprendizes
Tenha paciência, pois um dia tiraremos essas botas para balançar os pés na água
Deita sua cabeça nas minhas pernas e esquece um pouco de tudo

Os sorrisos, as palavras sem importância que são tão importantes
Vem escutar a música do coração: é linda, linda pra quem sabe ouvir
Passos leves e tranqüilos em silêncio nos transportam daqui

Ah, meu querido
Queremos muitas coisas. Queremos brincar
Será mesmo brincar? Nunca sabemos aonde começa, nem onde ela acaba
Mas sabemos que somos carinhosos. E ficamos felizes

Ah, meu querido.


*****


Gosto demais quando a Gabi escreve essas coisinhas assim e duvido que alguém me contrarie e diga que não gosta. Agradecimentos pela colaboração ao blog, obrigada pequena Gabriela notável.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pesadelos

"E talvez,se tem que durar,

vem renascido o amor

bento de lágrimas."

(Los Hermanos- O vento)


Sufocando, é assim que ela acorda. As mãos dele apertavam forte o seu pescoço e ela começa a se debater tentando faze-lo parar. Não consegue gritar, mas um de seus tapas o desperta e ele a solta em um susto. Ela corre para o banheiro, ele senta na ponta da cama chorando.
Encarando o espelho e se apoiando na pia ela retoma todo o ar, repara as marcas das mãos em seu pescoço, está doendo. Continua respirando o mais fundo que dá, pouco tempo depois ele bate na porta do banheiro chamando seu nome, ela abre e o abraça forte até fazê-lo parar de chorar.
Ele de justifica como se ela o estivesse culpando, explica que estava dormindo, que não podia controlar, foi mais um de seus pesadelos. Ela só o olha e diz que sabe, que entende, isso faz com que ele tente explicar toda a situação que acabara de ocorrer e que ela não parecia ter entendido: tentou matá-la enquanto dormia, ela deveria estar em pânico, deveria ter saído correndo, deveria sentir medo.
Repete, ela repete que entende, que sabia que foi um pesadelo e que está bem. As coisas começam a se acalmar, ele deita em seu colo como sempre faz quando está aflito, ele começa a pensar melhor e diz que não é certo, que aconteceria mais e mais vezes sem que pudesse controlar, que isso a machucaria e poderia ser mais grave que agora, que não poderiam ficar juntos.
Podia até não parecer são, mas ela não quer isso, não quer ficar longe dele, sabe dos riscos, conhece as feridas, mas também conhece o seu limite e sabe até que ponto pode ir. Não queria não poder fazer o possível, junto a ele, para que tudo voltasse ao normal, mesmo que houvesse por vezes choro, mesmo que houvesse por vezes um pedido de perdão. Ela queria ir até onde pudesse chegar e quando chegasse o dia que não conseguisse fechar os olhos por medo de certo avisaria, “Deixe que eu decido até onde posso aguentar”.

Uma noite ele pega no sono abraçado a ela, ele não tem mais pesadelos e ela consegue dormir.