Já não era mais uma criança ou uma menina sonhadora, com o tempo que passava ganhou responsabilidades em resposta ao espaço conquistado no mundo das pessoas grandes e atarefadas. Mudou de onde morava com os pais, para outro bairro, uma pequena casa de fundos, onde, como costumava dizer, tinha que escolher o que ficava dentro: a mobília ou ela. É, sabia que essa piadinha era muito ridícula, mas era a coisa mais engraçada e mais próxima da verdade que conseguiu pensar. Considerava sua sorte um pequeno espaço que com ousadia chamava de “O meu quintal”. Aquilo ali estava longe de ser um lugar invejado pelos outros, mas com criatividade...com criatividade seria um lugar onde sentiria prazer em estar. Reforçando, com muita criatividade.
Foi nisso que ele pensou quando foi visitá-la pela primeira vez. Como um bom amigo,não podia deixar as coisas assim do jeito que estavam. Tão sem graça, tão sem vida. Tomou a atitude simples na segunda visita feita de levar uma muda de roseira, dissera que faria bem ao quintal se tornar um pequeno jardim.
Ela sorriu, sabia que realmente estava faltando muita coisa naquele canto e uma roseira seria um bom começo. Naquela tarde plantaram juntos, ele não entendia nada de jardinagem mas deu uma força moral e estratégica.
Se antes ela se frustrava com o dito “meu quintal”, agora ficava frustada de ver como a planta não floria. Era um absurdo que uma mudinha de rosa demorasse tanto para ficar bonita e mostrar uma flor. Era um absurdo.
Sempre que sentavam no quintal para conversar, ela parava por um instante e o perguntava:
_Tem certeza que aquilo que você me deu era uma roseira? - com o tom mais sarcástico que podia fazer.
Ele não ligava, sabia que era uma roseira e sabia que no tempo certo...Talvez, se ela matasse a planta antes nunca veriam a flor, mas se tudo estivesse nos conformes, iriam conseguir vê-la.
_Êpa, a gente fica sentado no quintal, mas não olha pra ela não. Acho que deve estar inibida de tanto que ficamos encarando a coitada... - novamente com o seu clássico tom sarcástico.
E ela mesma passava longos minutos olhando para o canto que continha um pedaço de planta. Observava mesmo sem notar, não que imaginasse que em uma de suas piscadas apareceria uma rosa linda por ali mas isso virou uma espécie de sonho, ou talvez virara uma questão de honra .
Ele acompanhava essa trajetória pensando que da próxima vez levaria apenas uma plantinha de plástico,ou um peixinho de aquário... Não era a intenção fazer as coisas tomarem tanto tempo e causarem tantos rebuliços... Não era a intenção.
Sendo que um dia as coisas mudaram, sempre mudam...Ele recebeu um telefonema e do outro lado uma voz alegre berrante avisava que aconteceu e aconteceu melhor do que imaginavam. Não apenas um botão apareceu, mas sim três botões na roseira.
Tudo iria voltar ao normal agora, só faltava desabrochar e tudo voltaria ao normal. Dava para ver o sorriso dela pelo telefone.
Apesar de querer muito, o estimado amigo não teria como ver a rosa em sua forma de botão. Era uma semana conturbada e seu aniversário estava chegando.
Na manhã do aniversário dele, sua amiga foi até o quintal/jardim e como se as coisas fizessem um pouco de sentido ela sorriu, um sorriso contido de felicidade. Pegou a maior tesoura que tinha na cozinha e cortou as três rosas que ali nasceram em seu quintal. Juntou-as passando uma fita e fazendo um laço.
Aquela noite as pessoas não entenderam muito bem porque ele estava recebendo três rosas com cara de quintal de presente de aniversário. Ele sabia que rosas eram aquelas:
_Mas era tudo o que você mais queria nesse tempo... -pasmo com a situação de vê-las ali, e em silêncio deu o mesmo sorriso contido de felicidade.
Era o que ela mais queria nesse tempo...
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A melhor estação do ano começou. Aos fãs de tardes com gostinho de capuccino e pão de queijo, o inverno chegou!
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Fiz esse post de sacanagem, só para poder ter o prazer de escrever no fim de tudo: Pasmem!Hoje é o meu aniversário!
Tudo bem que não faço questão dessas coisas, mas nada melhor do que nos contrariar...Ah, e que fique bem claro! A culpa de ter nascido não foi minha...não foi mesmo! Estou tentando fazer minha mãe entender isso até hoje...