quarta-feira, 25 de maio de 2016

Boa noite

–Boa noite - falei, os dois já se encontravam ali esperando.
–Boa noite - ela falou antes.
–Boa noite - ele fala depois.

Entramos no elevador. Ele balançando as chaves. Ela olhando o celular. E eu me perguntando se ela não apertaria o botão do próprio andar. Talvez tenha escutado o que pensei e logo sinaliza que irá para o sexto.

– Boa noite - ele se despede no primeiro andar.
– Boa noite - eu respondo.
– Boa noite - ela responde.

Até que, muito brevemente, chegamos ao meu destino.

– Boa noite. - eu me despeço no segundo andar.
Ela não me respondeu.
Então tá.

domingo, 8 de maio de 2016

Dia de mistura


Ontem as coisas todas se misturaram no dia. Normalmente, em sua vida, as coisas se misturam em uma composição perigosa com nitroglicerina.
E, normalmente, o dia termina com ela chateada porque está cansada demais, porque alguma coisa não resolvida já deveria estar encaminhada, porque um cérebro não deveria girar tão rápido dentro de um pequeno espaço como sua cabeça (tudo bem, o espaço não era tão pequeno graças a genética de sua família).

Mas as coisas, um dia, se misturaram de um jeito diferente. O sabor do brigadeiro meio amargo que ganhou pela manhã com a sensação de expectativa do dia de descanso. O som da música tocando alta dentro do carro com as luzes já acesas das casas no início da noite. O sabor do vinho tinto seco com a conversa cheia de sorrisos (que sorriem até os olhos). O vento gelado batendo em seu nariz com a mão que segurava quentinha perto de seu corpo e lhe fazia carinho.

E quando as coisas se misturam de um jeito tão certo que faz dar coisinhas boas dentro do seu peito (e quanto tempo ela não sentia essas coisinhas no peito), ela escreve um texto qualquer para misturar com a sensação de gratidão.