(por Paula Rios )
Lucky I'm in love with my best friend
Lucky to have been where I have been
Lucky to be coming home again
Dois amigos bem diferentes e ao mesmo tempo com tanta coisa em comum. Ele era fascinado por números e não ligava muito para tecnologias. Era alto, desengonçado, usava óculos e tinha cabelos lisos e pretos. Odiava ver televisão e sua maior diversão era sacanear sua melhor amiga. Já ela, gostava de ler. Devorava livros e café. Era magra, ruiva e com uma capacidade incrível de ser impactante em apenas alguns minutos de conversa. O que os uniam era o fato de terem crescido juntos e por dividir fantasias de como deveria ser o mundo e a vida deles. Eram surreais em se tratando de paixão.
Ele sempre achou que fosse encontrar a mulher dos seus sonhos casualmente. Que um dia fosse precisar de um taxi na saída do aeroporto e teria que dividi-lo com uma completa desconhecida por ser o único disponível. Que se apaixonariam pelo simples fato do sorriso tímido trocado por terem tocado ao mesmo tempo na maçaneta do carro.
Ela já achava que conheceria a pessoa com quem passaria o resto da sua vida numa livraria ou cafeteria. Que se olhariam e nesse único momento o mundo pararia e pronto, se amariam. Eram iludidos e por isso viviam num mundo que criaram e acreditavam que essas coisas de filme e amor à primeira vista poderiam realmente acontecer. O que não esperavam era se apaixonar um pelo outro, isso simplesmente nunca havia passado pela cabeça deles.
E foi bem simples, nada de dividir taxi, nem se esbarrarem por acidente numa livraria ou algo parecido. Saíram como faziam toda semana. Foram ao teatro, depois numa pizzaria e nesse meio-tempo, ela percebeu que ele era o único que a entendia, que realmente a conhecia de trás para frente. E ele já havia notado faz tempo que era somente com ela que conseguia ser ele mesmo.
Entre pizza, risadas e coca-cola, se olharam fixamente por segundos e perceberam que simplesmente não seria estranho. Ficaram e foi tão natural que na outra semana já falavam em namoro. Porém tinham um receio imenso de destruir a amizade que tinham.
Numa conversa, ela deixou claro o medo de magoá-lo, de decepcionar a pessoa mais importante de seus dias, anos. E ele a olhou muito sério e sussurrou em seu ouvido:
– Meu único medo é de te perder e esse também deveria ser seu único. - ela o olhou estupefata e nesse momento viu uma pessoa que poderia fazer dar certo o plano de uma vida feliz a dois.
O namoro durou dois anos até que ele recebeu uma proposta de emprego numa multinacional nos EUA e ela não pôde ir junto, pois precisava cuidar da sua mãe que estava doente. Então, combinaram de se ver a cada seis meses. Primeiro ele viria e depois ela iria vê-lo. A idéia funcionou por um tempo, mas acabaram terminando.
O tempo passou e anos mais tarde se encontraram sem querer no saguão do aeroporto. Ela estava indo para uma reunião de trabalho em outro Estado e ele chegando dos EUA para visitar os familiares. Por causa de uma tempestade, o vôo dela atrasou e ele resolveu ficar para fazer companhia. Foram tomar um café e colocar a conversa em dia. Ela estava noiva, mas não mencionou em momento nenhum, embora ele tivesse reparado a aliança em seu dedo. Conversaram sobre a vida, o universo e tudo mais. Relembraram estórias engraçadas de escola, de brigas, do namoro e do triste fim de suas vidas juntos. Ela parou por um momento de falar e nesse vazio ele perguntou:
– No que está pensando?
– Nisso! – ela retrucou.
Sorriram, continuaram a conversa e minutos depois se despediram.
Dentro do avião, ela abre a bolsa e encontra um guardanapo dobrado que não havia ali antes, um bilhete dele escrito:
“Muito tempo se passou, mas algumas coisas simplesmente não mudam. Você continua com essa eterna mania de viver bem sem mim. Boa viagem!”
Ela sorriu, mexeu na aliança, dobrou o guardanapo e seguiu viagem.
Quando ele saiu do aeroporto, correu para pegar o único taxi disponível e ao chegar perto, uma moça tocou na maçaneta do carro junto com ele e acabaram por dividir o taxi.
*****
Deixa eu deitar com você
Que a noite é bem melhor, quando eu sonho com você
A... se não fosse o amanhecer e você ficasse aqui
Eu podia te mostrar, tudo que eu guardei pra ti
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Não seria da Paula se os dois ficassem juntos no final. Final feliz não precisa ser um final clichê.
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