Duas informações sobre cozinhar: é uma demonstração de afeto e é completamente sexy. Bom, pelo menos nessa minha
cabeça isso faz um completo sentido (mas não vamos falar sobre o fato de ser
sexy, não nesse texto).
Ter interesse em saber o que a
pessoa gosta e se determinar a passar aquele tempinho do seu dia dedicado a
isso. Cozinhar é, basicamente, suar, cortar a mão, se queimar e ficar com cheiro de tempero por gostar da
pessoa. E passar por tudo isso, sem dúvidas, é uma
demonstração de afeto.
Cozinhar para alguém é como dar o
melhor pedaço da galinha para a mais importante da mesa. É escolher quem ganhará o primeiro pedaço do bolo da sua festa de aniversário.
E sempre quando penso no nosso
namoro, penso que você detestava cebolas. Talvez, só talvez, seu pior defeito. Eu
detesto palmito em qualquer coisa, mas tolero com paciência. Detesto uva passa
na farofa, mas consigo superar com uma pitada de rancor. Mas detesto, de forma
imperdoável, maçã na salada de maionese. Mas adoro cebolas desde sempre na vida e em
(quase) tudo. E se a vida é brincalhona, ela foi brincalhona em unir meu amor
com seu pavor.
No início, quando estávamos nos conhecendo, insisti e picava pequeno. Gostava muito de você, mas adorava as cebolas. Falava
“Juro, você nem vai notar”, ou simplesmente não falava nada, porque “Vai que é
só implicância, né?”. Foi uma tarefa inútil, você tinha aversão a elas e as encontrava
em todos os lugares. Se eu fazia esforço para deixa-las, você passava uma vida
para tirá-las.
Com o tempo, minhas comidas eram
sempre pensadas em você. Acho que foi assim com meu afeto também. Às vezes,
esquecia de comprá-las por me policiar tanto no cuidado contigo. Notava que essa
coisinha cresceu em você também quando criou a condição: “Pode colocar cebola,
desde que seja ralada”. Dava trabalho? Dava. Era a mesma coisa? Não era. Mas
foi um cuidado seu no cuidado meu.
A gente se gostou muito e na
mesma proporção que você as detestava.
E tudo caminhou bem, até que um
dia você não se importou mais e colocou maçã na salada de maionese. E não teve perdão.